O que sente um voluntário da LBV
Programa Ronda da Caridade

O Programa Ronda da Caridade é um dos programas que mais causa introspeção aos voluntários que nele participam, porque são pessoas que estão a precisar de ajuda, que se encontram em situações consideradas desumanas, seja por que razão for, não ficamos indiferentes porque se ficarmos não somos seres humanos...
É um desses testemunhos que vimos aqui partilhar, de uma voluntária, Conceição Araújo, que participou na ação da LBV, pelas ruas, ontem na noite de Lisboa e sentiu que tinha que passar para o papel o que sente, para deixar sair o que vai na alma:
“Ontem foi mais uma noite de ronda aos sem abrigo. Cada ronda que faço é um aperto que fica no coração, por impossibilidade de ajudar mais do que aquilo que posso, por revolta por ver a degradação do ser humano, pela gratidão que vejo em certos olhares perante aqueles que lhes levam apenas um pouco do seu tempo e muita ternura no que a mim me diz respeito. Sim, estou de rastos! Por saber que há gente que tem tudo e olha para o lado sem querer ver, porque é horrível, cheira mal e está muito sujo. De rastos, porque se reclama por se ter tudo e querer sempre mais. De rastos, porque estes seres humanos nos dão uma grande lição de vida para quem a quiser aprender e lá estiver com o verdadeiro propósito de ajudar de coração aberto e se sentir bem nesta dualidade de se sentir de rastos e ao mesmo tempo regressar a casa com um sentido de dever cumprido e não conseguir tirar da memória aqueles olhares a pedirem por socorro, mas sempre com um bem-haja proferido levemente devido à fome que teima em não os abandonar...
Que ser humano sou eu quando reclamo por isto e por aquilo!
Estou de rastos!”